domingo, 22 de abril de 2012

Seres decentes - Ramalho Eanes

               
   

Em 1911, o 1.º Presidente ganhava 15 vezes mais do que um deputado. E agora?http://expresso.sapo.pt/politica/2016-03-08-Em-1911-o-1.-Presidente-ganhava-15-vezes-mais-do-que-um-deputado.-E-agora-



Seres decentes
Quando cumpria o seu segundo mandato, Ramalho Eanes viu ser-lhe apresentada pelo Governo uma lei especialmente congeminada contra si.

O texto impedia que o vencimento do Chefe do Estado fosse «acumulado com quaisquer pensões de reforma ou de sobrevivência» públicas que viesse a receber.
Sem hesitar, o visado promulgou-o, impedindo-se de auferir a aposentação de militar para a qual descontara durante toda a carreira.
O desconforto de tamanha injustiça levou-o, mais tarde, a entregar o caso aos tribunais que, há pouco, se pronunciaram a seu favor.
Como consequência, foram-lhe disponibilizadas as importâncias não pagas durante catorze anos, com retroactivos, num total de um milhão e trezentos mil euros.
Sem de novo hesitar, o beneficiado decidiu, porém, prescindir do benefício, que o não era pois tratava-se do cumprimento de direitos escamoteados - e não aceitou o dinheiro.
Num país dobrado à pedincha, ao suborno, à corrupção, ao embuste, à traficância, à ganância, Ramalho Eanes ergueu-se e, altivo, desferiu uma esplendorosa bofetada de luva branca no videirismo, no arranjismo que o imergem, nos imergem por todos os lados.
As pessoas de bem logo o olharam empolgadas: o seu gesto era-lhes uma luz de conforto, de ânimo em altura de extrema pungência cívica, de dolorosíssimo abandono social.
Antes dele só Natália Correia havia tido comportamento afim, quando se negou a subscrever um pedido de pensão por mérito intelectual que a secretaria da Cultura (sob a responsabilidade de Pedro Santana Lopes) acordara, ante a difícil situação económica da escritora, atribuir-lhe. «Não, não peço. Se o Estado português entender que a mereço», justificar-se-ia, «agradeço-a e aceito-a.
Mas pedi-la, não. Nunca!»
O silêncio caído sobre o gesto de Eanes (deveria, pelo seu simbolismo, ter aberto telejornais e primeiras páginas de periódicos) explica-se pela nossa recalcada má consciência que não suporta, de tão hipócrita, o espelho de semelhantes comportamentos.
“A política tem de ser feita respeitando uma moral, a moral da responsabilidade e, se possível, a moral da convicção”, dirá. Torna-se indispensável “preservar alguns dos valores de outrora, das utopias de outrora”.
Quem o conhece não se surpreende com a sua decisão, pois as questões da honra, da integridade, foram-lhe sempre inamovíveis. Por elas, solitário e inteiro, se empenha, se joga, se acrescenta- acrescentando os outros.
“Senti a marginalização e tentei viver”, confidenciará, “fora dela. Reagi como tímido, liderando”. O acto do antigo Presidente («cujo carácter e probidade sobrelevam a calamidade moral que por aí se tornou comum», como escreveu numa das suas notáveis crónicas Baptista-Bastos) ganha repercussões salvíficas da nossa corrompida, pervertida ética.
Com a sua atitude, Eanes (que recusara já o bastão de Marechal) preservou um nível de dignidade decisivo para continuarmos a respeitar-nos, a acreditar-nos - condição imprescindível ao futuro dos que persistem em ser decentes.
Autor: Fernando Dacosta

Nota: Já escrevi algures no Expresso um comentário sobre Ramalho Eanes, mas sinto-me na obrigação de dizer algo mais e que me foi contado por mais que uma pessoa.
Disseram-me que perante as dificuldades da Presidência teve de vender uma casa de férias na Costa de Caparica e ainda que chegou a mandar virar dois fatos, razão pela qual um empresário do Norte lhe ofereceu tecido para dois. Quando necessitava de um conselho convidava as pessoas para depois do jantar, aos quais era servido um chá por não haver  verba  para o jantar. O policia de guarda em vez de estar na rua de plantão ao fio e chuva mandou colocá-lo no átrio  e arranjou uma cadeira para ele não estar de pé. Consta que também lhe ofereceram Ações da SLN-BPN, mas recusou.
http://viriatoapedrada.blogspot.pt/2012/03/manuel-de-arriaga-primeiro-presidente.html

http://viriatoapedrada.blogspot.pt/2012/03/o-rei-da-republica.html




O NOSSO PROBLEMA por RAMALHO EANES 
“Desobediência civil não é o nosso problema. O nosso problema é a obediência civil. O nosso problema é que pessoas por todo o mundo têm obedecido às ordens de líderes e milhões têm morrido por causa dessa obediência. O nosso problema é que as pessoas são obedientes por todo o mundo face à pobreza, fome, estupidez, guerra e crueldade. 
O nosso problema é que as pessoas são obedientes enquanto as cadeias se enchem de pequenos ladrões e os grandes ladrões governam o país.
É esse o nosso problema." Ramalho Eanes, Gen.


Hoje, muito pouca gente recorda o 
PRESIDENTE HARRY TRUMAN 

e conhece estas características da sua personalidade...

No Portugal de hoje há um, que também foi Presidente, com comportamentos parecidos ...
  
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HARRY TRUMAN foi um tipo diferente como presidente.
Provavelmente tomou tantas ou mais decisões em relação à história dos EUA como as que tomaram juntos os 42 presidentes que o precederam.
Uma medida da sua grandeza talvez permaneça para sempre: trata-se do que êle fez DEPOIS de deixar a Casa Branca.
A única propriedade que tinha quando faleceu era uma casa, onde morava, que se encontrava na localidade de Independence, Missouri. A sua esposa havia-a herdado de seus pais e, fora os anos em que moraram na Casa Branca, foi onde viveram durante toda a vida.

Quando se retirou da vida oficial, em 1952, todas as suas receitas consistiam numa pensão do Exército de U$13.507 anuais.
Quando o Congresso soube que ele custeava seus próprios selos de correio, outorgou-lhe um complemento e, mais tarde, uma pensão retroativa de $ 25.000 anuais.
Depois da posse do presidente Eisenhower, Truman e sua esposa voltaram a seu lar no Missouri dirigindo seu próprio carro... sem nenhum acompanhamento do Serviço Secreto.

Quando lhe ofereciam postos corporativos com grandes salários, rejeitava-os dizendo:
“Vocês não querem a mim, o que querem é a figura do Presidente, e essa não me pertence. Pertence ao povo norte-americano e não está a venda...”.
Ainda depois, quando em 6 de Maio de 1971 o Congresso estava se preparando para lhe outorgar a Medalha de Honra em seu 87° aniversário, recusou-se a aceitá-la, escrevendo-lhes:
“Não considero que tenha feito nada para merecer esse reconhecimento, venha ele do Congresso ou de qualquer outra parte”.
Enquanto Presidente, pagou todos seus gastos de viagens e de comida com seu próprio dinheiro, quando não estava em função oficial.
Este homem singular escreveu:

“As minhas vocações na vida sempre foram ser pianista numa casa de putas ou ser político.  E para falar a verdade, não existe grande diferença entre as duas!”.

3 comentários:

  1. pois é este nao era de carreira politica..saudades

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  2. Pois esse o lado bom mas; quando dividiu o PS formando os renovadores que conduziram o( senhor silva ao poder )e que iniciou a venda da frota de pesca e da nossa agricultura á CEE contribuiu e de que maneira para aquilo que somos hoje

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  3. O certo é que ele pediu a revisão da lei para lhe darem razão e a pensão. Logo, não posso aplaudir. Mesmo que ele a tenha posteriormente recusado.
    Pior ainda o caso da Natália Correia cujos benefícios que obteria com a pensão "de mérito" são demonstrativos da usurpação do dinheiro público tão característicos da roubalheira portuguesa...

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